quinta-feira, fevereiro 26, 2009

LULA E A MÍDIA

segue aqui um artigo de Beto Almeida, no qual tenho ressalvas, porém há dados, bem como trata da questao do presidente manifestar sua opinioa perante a dita opiniao publica e aos que compoem a nação.
Sem odes a Vargas. Sem ame ou odeio. Por isto as ressalvas

Na integra:
Bem-vindo ao jornalismo, presidente
Por Beto Almeida em 17/2/2009



"A minha cama... é uma folha de jornal" (Noel Rosa)

Depois de Fidel Castro, com suas indispensáveis Reflexiones del comandante, e do presidente da Venezuela, com suas densas argumentações em Las líneas de Chávez, teremos agora a coluna que Lula vai publicar regularmente em jornais espalhados por todo este país, cujo título, conforme está na Mensagem do Executivo enviada ao Congresso, será "O presidente responde". Talvez poucos jornalistas tenham lido o documento, o que não é raro em se tratando de jornalistas – há muitos que não lêem esses documentos. Será interessante ter na mesma página que ataca o Lula, suas respostas, suas interpretações e suas análises para fenômenos.

Trata-se de decisão política relevante, com muitos significados e, sobretudo, abrindo novas janelas para os que lutam para transformar os meios de comunicação, o jornalismo em particular, em instrumentos de civilização e democratização.

Primeiramente porque o jornalismo ganha em conteúdo informativo, pois, ninguém duvida, trata-se de um "colega" altamente informado. E ganha também porque raramente alguém com a rica experiência de vida e de história que ele possui, com o olhar crítico popular sobre um jornalismo feito pelas elites e para as elites, tem acesso a escrever.

Muitos críticos já se calaram


Não carece repetir a volumosa tendência antilulista predominante no jornalismo atual, o que tem levado o presidente a criticar com alguma freqüência a mídia, a baixaria televisiva e também um certo jornalismo por lhe causar azia. Pois, a decisão de se transformar um colunista político de jornal indica, primeiramente, que Lula dá um novo passo concreto para transformar o panorama comunicativo brasileiro, muito embora até muitos de seus aliados tenham dificuldades em reconhecer mudanças em curso na área, certamente porque a ditadura midiática, rigorosamente hegemônica e onipresente, ofusca, confunde e cega.

Recapitulemos. Em 2002, um Seminário Nacional de Cultura e Comunicação, realizado em cinco regiões do Brasil, produziu um documento chamado "A imaginação a serviço do Brasil", incorporado como programa na campanha "Lula-Presidente" daquele ano. Este documento programático foi duramente criticado pela mídia conservadora, Veja à frente, como de inclinação "bolchevique- caipira". O documento trazia a proposta da TV Pública a partir da fusão entre Radiobrás e TVE, mais tarde realizada pelo presidente Lula, após convocar o primeiro Fórum Nacional de TVs Públicas ocorrido no Brasil. Trazia ainda a idéia de uma nova relação com as TVs e rádios comunitárias, que só agora, vencendo as dificuldades, começa a se delinear, sobretudo a partir da proposta de descriminalizaçã o (rádios-com) e também das várias políticas de audiovisual que podem também alcançar as TVs comunitárias.

Há muitíssimo o que caminhar, mas o sinalizado não está incorreto. Os muitos Pontos de Cultura criados expandem a produção audiovisual comunitária e regional, colocando, é verdade, um bom problema: o de se encontrar espaços de divulgação. Não sem razão, a TV Brasil está fazendo a licitação para instalar repetidoras em 200 cidades de grande e médio porte, o que significa, sim, disputa de audiência. Tímida? Pode ser, mas a direção é corretíssima, confere o que está na Constituição que pede comunicação plural, regionalizada, educativa e civilizatória. Sim, mas tem que chegar aos grotões. Sei o quanto é difícil pedir paciência em comunicação, mas o fundamental agora é ajudar a construir esta TV Brasil e até muitos dos críticos já se calaram...

Vargas e a comunicação

Pois Lula, agora, vai um pouco mais além: ele próprio transforma-se em colunista de jornal o que de certo modo já responde a uma descabido pito acadêmico que erroneamente considerou sua crítica a um jornalismo que faz mal ao fígado, como se fosse elogio à não-leitura. Se desprezasse a leitura, não se transformaria ele próprio em jornalista, disposto com o gesto a enfrentar o debate pouco equilibrado em curso no jornalismo brasileiro, com os conglomerados midiáticos unidos numa linha editorial predominantemente oposicionista ao seu governo.

Se o próprio presidente da República sente a necessidade de responder ele próprio às desinformações e manipulações, ou às sonegações praticadas pela grande mídia contra si e seus atos – inclusive aquela que recebe enorme quantidade de recursos financeiros do governo que ataca, até para produzir, por exemplo, programas como o Telecurso, de boa qualidade educativa, mas inexplicavelmente exibido de madrugada –, imagine-se a vulnerabilidade do cidadão comum indefeso diante do poderio demolidor imagético dos meios!

Lições da história, os presidentes mudam a comunicação. Casos positivos: Perón criou a TV que já nasceu pública na Argentina; Guevara tomou o exemplo da Agência Latina de Perón e criou a Agência Prensa Latina, em Cuba: o general Alvarado, no Peru, foi além, nacionalizando os meios de comunicação e entregando-os aos sindicatos que, sem saber operá-los, os devolveram ao Estado. Chávez criou a Telesur. A grande transformação comunicativa de sentido público havida no Brasil ocorreu na Era Vargas. Juntamente com a industrializaçã o, a nacionalização do subsolo, a criação das empresas estatais estratégicas, do Instituto do Açúcar e do Álcool, para abrir a era da energia da biomassa, e da legislação trabalhista, que começava a tirar os trabalhadores da senzala oligárquica do direito trabalhista- zero, Vargas sentiu também a necessidade de mudanças no plano comunicativo e cultural.


O maior dos presidentes


Tendo criado o Instituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional do Cinema, do Teatro, o ensino público obrigatório, o presidente gaúcho, que também havia sido redator de jornal no movimento estudantil, assume a criação da Rádio Nacional, da Rádio Mauá – a Emissora do Trabalhador –, do jornal A Manhã, a União, na Paraíba, tendo inclusive nacionalizado outros periódicos como A Noite, e até O Estado de S. Paulo, durante o período em que o tenente João Alberto, ex-integrante da Coluna Prestes, esteve à frente do governo paulista.

Vargas criou ainda outras publicações, mas duas delas merecem registro: O Pensamento da América, destinado à integração latino-americana, e a Revista Cultura, cuja excelência, em ambas, devia-se à qualidade de seu quadro de redatores, entre os quais Carlos Drummond de Andrade, Gustavo Capanema, Nestor de Hollanda, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira etc. Estas publicações desapareceram, soterradas pela mesma ação demolidora do patrimônio nacional que buscou acabar com a Era Vargas.

É verdade que o sindicalista Lula fez muitas críticas a Vargas, quiçá pela proximidade que tinha com uma certa sociologia paulista, inspirada em valores coloniais-oligá rquicos, que mais tarde veio a privatizar a Vale do Rio Doce, a CSN, a Telebrás, a Portobrás e, em boa medida, a Petrobras. Tentaram rebatizá-la de PetrobraX, lembram-se? Faz muito tempo, Lula chegou mesmo a declarar que "se Vargas era o pai dos pobres, era a mãe dos ricos". Talvez, com a experiência de quem tem que tocar o barco, não as repita hoje. Basta dizer, é o próprio presidente que hoje fala que nunca antes os banqueiros ganharam tanto dinheiro como em seu próprio governo.

Mais importante é, debaixo do tiroteio das declarações, numa caminhada de décadas, que fazem a alegria de uma mídia que quer condenar para todo o sempre a Era Vargas, descobrir linhas de coincidências históricas entre Vargas e Lula. Lembrando que Lula chegou a se emocionar quando visitou o túmulo de Vargas em São Borja, acompanhado de Leonel Brizola. E, mais recentemente, baixou decreto criando a "Semana Vargas" para que, segundo explicou, todos conheçam profundamente a obra daquele que foi o maior dos presidentes. Declaração dele.

Integração latino-americana


Pois se Vargas criou a Rádio Nacional, a Rádio Mauá, a Voz do Brasil – instrumento de democratização da informação via rádio acessível a uma esmagadora maioria de brasileiros que ainda hoje, como há décadas, continua proibida da leitura de jornal –, Lula, com o mesmo sentido histórico, criou a TV Brasil, a TV pública brasileira cujo projeto estava sendo trabalhado por Vargas como desdobramento da Rádio Nacional, tendo sido sepultado, junto com o gaúcho, para a alegria do capital estrangeiro, das oligarquias nacionais, dos inimigos eternos dos direitos trabalhistas e também da comunicação pública. Hoje continuam tramando contra a Voz do Brasil, atacam o jornalismo chapa-branca, mas perdoam o jornalismo chapa-oligopó lio.

Há outras identidades, mantidas as diferenças de épocas históricas: Vargas deu início ao pró-alcool, montou o trem do álcool, Lula o retoma, o valoriza, o expande contra a pressão das potências estrangeiras – ambos os presidentes buscando a independência nacional energética. Vargas concretizou a campanha "O petróleo é nosso"; Lula afirma agora que "o petróleo pré-sal é do povo brasileiro, não das transnacionais" , as mesmas que levaram Vargas ao suicídio-golpe. E ainda convocou a UNE a sair ás ruas para uma nova campanha "O petróleo é nosso". Vargas criou o BNDS, o maior banco de fomento do mundo, que FHC usou contra o Brasil na privataria, mas não conseguiu demolir. Lula recupera parcialmente a função social do BNDES, o fortalece enormemente, fortalece o sistema financeiro público. Outras coincidências: a política externa da Era Vargas, como a da Era Lula, afirmativas da integração latino-americana, da soberania nacional, da independência, não é de tirar os sapatos e rebaixar-se ante ordens de qualquer guardinha de alfândega dos EUA...

Ditadura vídeo-financeira

Como o tema é comunicação, a partir da decisão de Lula tornar-se colunista somos levados a pensar num sentido histórico para acreditar que estão sendo criadas as condições para que o mesmo desejo do presidente de democratizar informações, de intensificar o debate democrático de idéias, possa ser feito não apenas com sua coluna, mas com a criação de novos instrumentos de comunicação dirigidos à grande massa que continua proibida de ler jornal. Ou seja, uma idéia leva à outra.
Se somadas todas as tiragens dos pouco mais de 300 jornais diários existentes no Brasil, hoje não alcançamos o número de 7 milhões de exemplares. Ou seja, temos no Brasil indigência de leitura de jornais. Temos aí uma charada que o mercado, por si só, mostrou-se incapaz de resolver: como levar os brasileiros a ter pleno acesso à leitura, tornar acessível a eles uma tecnologia do século 16, a imprensa de Gutenberg?

Seja bem-vindo o presidente Lula ao mundo do jornalismo, até porque, com certeza, se ocupará mais diretamente dos desafios da comunicação que ainda fazem com que o Brasil seja um país com informação controlada por uma ditadura vídeo-financeira. Apesar de que exista uma capacidade ociosa crônica de 50% de nossa indústria gráfica, parada, enquanto o povo não tem o que ler! Isto ilustra quando Lula diz que ainda não resolvemos problemas de outro século...

Um jornal público


Quem sabe, o colunista Lula não esteja já pensando – diante da expectativa positiva que criou ao anunciar que suas próprias palavras serão reproduzidas em centenas de jornais – em como superar os limites impostos pelo sistema de proibição da leitura. Diante de dilema similar de uma mídia de corte oligárquico, que ignora até que a Bolívia é hoje considerado "território livre do analfabetismo" pela Unesco, ou que já retomou corajosamente o controle nacional sobre suas riquezas minerais, Evo Morales viu-se impelido a lançar um jornal do poder público, já que o livre jogo do mercado conduz apenas à concentração, a um jornal para as minorias e a uma linha editorial rigorosamente antipatriótica.

Mercado não democratiza, mercado concentra, carteliza, exclui, discrimina, sonega, embrutece... Como hoje mesmo os inimigos do Estado estão "convertidos" a reconhecer o Estado como solução para a grande crise do capitalismo, no campo da comunicação podemos trabalhar com ainda mais desenvoltura as teses que reivindicam mais protagonismo do Estado: só o fortalecimento da comunicação pública, sua qualificação, sua capacidade de disputar audiência, leitores, poderá finalmente possibilitar que a invenção de Gutenberg seja acessível a todos os brasileiros, como aos bolivianos. Evo alfabetiza e democratiza a leitura. Lula cria a universidade da integração latino-americana, Unila, e torna o ensino do espanhol obrigatório. Muitas identidades. A coluna de jornal de Lula é apenas o primeiro passo, no sentido correto.

Que não se diga que os poderes públicos não podem editar jornal! Será um decreto escrito nas estrelas? Ué, por que os críticos não ficam esbaforidos, nem indignados com o fato de que é o Estado que banca grande parte do jornalismo privado? Mas, jornalismo público, não? Aí seria um crime? Na França existe um jornal editado pela Previdência Social que chega a todos os segurados, e não apenas com notícias previdenciárias. É um jornal, traz notícias do país, do mundo, do futebol, das cidades, do clima, da economia, da cultura.

Por que será impossível pensar que o Programa Bolsa Família, que leva farinha, café, macarrão a 13 milhões de famílias não pode também levar um jornal, talvez o único que os brasileiros pobres possam segurar em suas mãos não para forrar banheiro ou para servir de cama, como na música de Noel Rosa? Mas, um jornal que respeite os mais pobres como cidadãos, que lhes traga informação sobre a vida, sobre o funcionamento da economia que eles, os mais pobres, movimentam. Que não fale apenas de crimes, mas fale dos programas públicos, das oportunidades, da música popular, dos heróis nacionais. Que explique sobre medidas simples para a prevenção de doenças contagiosas, como o câncer de pênis, que pode ser prevenido em boa medida com informação em saúde, mas que os jornais sustentados por anúncios da indústria de medicamentos não querem divulgar. Que lhes dê a oportunidade de criar, finalmente, um hábito de leitura. Convenhamos que isto é impossível se não existe um jornal de distribuição gratuita, com linguagem simples e clara – não nos faltará talento para isto, afinal já demos um Monteiro Lobato, um Paulo Freire, um Ariano Suassuna, somos um país de preciosos cordelistas e payadores, mas que não têm onde escrever.

PAC da informação e da cultura

Este é o grande desafio: está muito bem que Lula seja colunista de jornal, sobretudo por ser cidadão de excepcional inteligência política – muito mais bem informado do que os mais bem informados jornalistas – e com sua capacidade de discernimento e leitura do mundo e de escrever uma outra história política para o povo brasileiro ao ter criado instrumentos, a CUT e o PT, que estimularam a participação direta dos mais pobres e excluídos na vida política e nos destinos do país. Mas esta coluna precisa também de um jornal para que seja lida por milhões, distribuído pelo mesmo mecanismo do Bolsa Família, pelas redes do SUS, pelos sindicatos, fábricas, estádios de futebol, metrôs, ônibus e trens. Já que Lula se animou a entrar no jornalismo, tomara que seja o preâmbulo de um esforço para criar, além da TV Brasil, um jornal para os milhões de brasileiros proibidos da leitura.

Aliás, a EBC é empresa de comunicação, não apenas de rádio e de televisão. Já havia sido levada pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal ao congresso nacional da categoria, mas depois esquecida: um Programa Público de Popularização da Leitura e Edição de Jornal, aproveitando a capacidade ociosa da indústria gráfica. É o PAC da informação e da cultura. Gera emprego, mas, sobretudo, gera um cidadão novo, informado, cidadão completo. A gente não quer só comida, diz a música. Ou, como diz o meu xará, "Saciar a fome de pão e a fome de poesia também". Aquela masturbação acadêmica que procura a porta de saída do Bolsa-Família certamente não poderia rejeitar: além de nutridos, seres humanos com acesso à leitura, para enxergar mais longe na vida e na história.. Os acadêmicos conservadores criticam o povo que não lê; então não podem rechaçar, devem apoiar, que se trabalhe para demolir o sistema de proibição da leitura, né?

Que não se venha a inverter o verdadeiro debate falando de diploma: o desafio é criar um jornal para milhões. Se o Bolsa Família é dos maiores programas sociais do mundo, que ele seja enriquecido com a oferta de um jornal respeitoso ao pobre, civilizador, educativo, lúdico e informativo.

Quanto a diploma, é indispensável, sim, uma regulamentação, mas uma que permita às classes populares o exercício do jornalismo. Fica o tema para debate, mas definitivamente o colunista Lula está dentro da lei, além do que seu único diploma, como declarou de modo comovedor, é o diploma de presidente da República que lhe foi dado por 63 milhões de eleitores-professores.

domingo, fevereiro 22, 2009

Começou a hora do show* Carnaval e pseudo Democracia racial

Brasília, 20 de fevereiro de 2009

Em 2000, o cineasta afro-americano Spike Lee finalizou um dos seus filmes mais duros, A Hora do Show, em que satiriza a indústria cultural americana, através da crítica à representação dos negros num programa de TV. Infelizmente, a situação do Carnaval baiano permite analogia entre o branco pintado de negro em O cantor de jazz, filme citado por Lee em A Hora do Show, e os cantores e cantoras que, a partir da mimetização do imaginário, da fala, da criatividade visual, musical e rítmica de artistas negros baianos, se inserem na mídia e no mercado “pintados” de negros e negras da Bahia.

A renovação, atualização e releitura do Carnaval baiano apóiam-se fortemente na “africanização” da festa. A expressão visual, as roupas usadas no Carnaval e no cotidiano, a moda da rua, as gírias, as expressões artístico-culturais, a inventividade do negro e da negra são utilizados pelo mercado de “novidades” carnavalescas.

A reafricanização do Carnaval baiano se registra a partir dos blocos de índio, nos anos 70. É preciso lembrar que houve momentos de perseguição dos poderes públicos aos Apaches do Tororó e aos Comanches. A criação e resistência dos blocos de índios foram fundamentais para a etapa seguinte.

Em 1974, chega à avenida o Ilê Aiyê, depois vêm o afoxé Badauê, o Olodum, o Malê Debalê e, ao longo do tempo, em outras comunidades marcadamente negras e periféricas, vimos surgir Ara Ketu, Timbalada, Didá.

Estas e outras entidades, seja nas estampas, alegorias, repertórios ou musicalidade, bebem diretamente da fonte da África baiana, África recriada, imaginada, atualizada a partir de referências da juventude negra e do seu cotidiano nas periferias.
O fenômeno do enegrecimento do Carnaval encontra-se, hoje, noutro patamar.

De forma semelhante a outras manifestações originalmente referenciadas na cultura negra, o processo de inserção no mercado descaracteriza os produtos a partir da ressignificação e apropriação destas expressões artísticas por artistas e instituições não-negros, inclusive as públicas.

O Carnaval da Bahia pinta o rosto de negro, mas os espaços mais cobiçados e lucrativos, a exposição midiática privilegiada, o inegável resultado financeiro fica nas mãos e bolsos brancos ou quasebrancos.

A elite do mercado do Carnaval agiu rápida e lucrativamente ao explorar e incorporar o acervo negro baiano. A incorporação virou símbolo da Bahia e da propagada baianidade que seduz o Brasil e o mundo, através, principalmente, dos “pintados” de negro, uma mercadoria de forte receptividade, consumida com alegria pela indústria cultural e de turismo. Ao mesmo tempo, a maioria das mulheres e jovens negros cumpre papéis subalternizados na festa: comércio informal, cordas, coleta de latinhas e pets, refugos dos que pagam para usufruir da hora do show.


Em alguns casos, ainda, é preciso “embranquecer” o artista negro para ter sucesso. É preciso adotar práticas da elite do Carnaval baiano para “aparecer”: mudam-se os formatos dos shows, os locais dos ensaios, acrescentam-se elementos que representem diversidade racial, elitiza-se o produto para que ele seja melhor aceito pela mídia e pelo mercado. Alguns, que não aderem às práticas do Carnaval branco, são as exceções tão necessárias para tornar a festa ainda mais bonita e – aparentemente – legitimamente afrobaiana.

O desafio para os artistas negros e negras da Bahia é duplo: o primeiro, como todo artista, é estar atento e antenado para – a partir da arte – colocar o povo em suas obras; o segundo, mais cruel e oneroso, é ver sua originalidade reverter em ganhos para outros grupos, outras pessoas, ver sua obra obter espaços a partir de rostos “pintados” de negro.

Não é uma questão de cópia ou plágio.

É algo que escapa da legislação de direitos autorais, é mimetização e ressignificação de um patrimônio imaterial, ao mesmo tempo individual e coletivo.
Embora não haja ilegalidade nessas práticas de apropriação, há a imoralidade, que produz a deslegitimação dos processos de organização e expressão cultural da juventude negra da Bahia.

Para nós, que vimos nascer, crescer e sobreviver a pulsante originalidade desta recriação da África na Bahia, nos resta usar a voz. A pergunta é: quem são as vítimas na hora do show ?

*Por Luiz Alberto - Deputado Federal (PT/BA), ex-secretário de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia
Fonte: Jornal A Tarde / Opinião - Página 3 - Publicado em 20 de fevereiro de 2009

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Oposição tem medo da capacidade de Lula para fazer sucessor, diz Berzoini

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoni (SP), afirmou nesta quarta-feira (18) que a representação do DEM (ex-PFL) contra o governo Lula por suposta antecipação da campanha eleitoral de 2010 é uma demonstração do medo que a oposição tem do crescimento político do presidente Lula e da sua potencial capacidade de fazer a sua sucessão.

"A oposição está passando o recibo antes da hora. Na verdade a preocupação com a eleição é porque eles percebem que o povo identifica no governo Lula um comportamento radicalmente diferente do governo Fernando Henrique Cardoso", rebateu Berzoini, durante debate na Rádio CBN com o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Berzoini fez questão de destacar as diferenças entre os governos Lula e FHC no enfrentamento de crises financeiras e econômicas internacionais. No governo FHC, lembrou ele, as crises foram enfrentadas com arrocho salarial, redução de investimentos e principalmente aumento de imposto. "No governo Lula o tratamento da crise é totalmente diferente: ao invés de ficar na defensiva, o governo vai para a ofensiva, aumentando o salário mínimo (6% acima da inflação), ampliando o programa bolsa família, reduzindo o Imposto de Renda da Pessoa Física, reduzindo o IPI dos carros, o que possibilitou a recuperação do setor automobilístico em janeiro". Disse o presidente do PT.

Na avaliação de Berzoini a oposição se apavora porque percebe que o povo, por meio de pesquisas, como a recentemente realizada pela CNT/Sensus, identifica que o governo Lula está no caminho certo. "Com dificuldade orçamentária, mas com coragem para não ficar na defensiva como aconteceu nas crises da Asia, da Rússia ou do México, quando o governo FHC jogou o país na recessão e na estagnação. Eu tenho a certeza que daqui a seis meses a gritaria da oposição vai aumentar porque o que eles têm medo é do crescimento político do presidente Lula", afirmou.

Ele recordou que o governo Lula reduziu o IOF para diminuir o custo do crédito e anunciou também que vai não só manter como buscar recursos orçamentários para as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) , além de lançar um programa com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para financiar a construção de um milhão de habitações populares nos próximos dois anos.

Prefeitos

O deputado Berzoini também rebateu as reiteradas críticas da oposição ao encontro nacional de prefeitos realizado neste mês, em Brasília e sobre as viagens da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), para acompanhar as obras do PAC. "O que a oposição tenta é politizar a ação administrativa do governo. O governo Lula, ao contrário do governo FHC, tem uma relação intensa com os prefeitos. No governo FHC, quando os prefeitos chegavam em Brasília ou eram recebidos com desprezo ou com repressão". Ele recordou que àquela época até cães foram usados para reprimir prefeitos. O governo Lula, porém, mudou o tratamento: desde o início, em 2003, o presidente comparece à Marcha dos Prefeitos em Brasília.

Segundo Berzoini, as atividades dos ministérios, no governo Lula, está voltada permanentemente para a ação dos municípios, para articular as obras de infraestrutura e os programas sociais do governo. "Então é natural que com a posse de novos prefeitos nós tenhamos um evento em Brasília onde o presidente Lula e os seus ministros apresentem a renovada disposição para estreitar a relação do governo federal com os municípios. Nada tem a ver com campanha".

Berzoini observou que não era apenas a ministra Dilma Rousseff que estava presente ao evento em Brasília, que a oposição está tachando de eleitoreiro. "Praticamente todos os ministros estavam presentes. E não havia nada de eleitoral. Havia simplesmente um ambiente político, que é normal, entre o presidente da República, ministros e prefeitos de todos os partidos, inclusive os de oposição ao governo . Todos estavam ali discutindo programas de governo e proposta de cooperação entre o governo federal e os governos municipais", disse.

Liderança do PT/Câmara (www.ptnacamara. org.br)

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Veja e PMDB- Moralismo miasmatico de porão

sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

LEITURAS DE VEJA

Jogadas de pirotecnia política
Por Luciano Martins Costa em 16/2/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 16/2/2009


A revista Veja lançou seu candidato à vice-presidência da República em 2010. A entrevista com o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos (edição 2100, de 18/2/2009) não sairia mais adequada à posição política adotada pela revista – e pela maioria da imprensa brasileira – se tivesse sido produzida pela assessoria de imprensa do próprio senador. Mas o resultado da operação, por enquanto, é nulo.

Apesar de algumas notas publicadas no fim de semana, aquilo que deveria ser uma jogada bombástica vai se diluindo na geléia geral da política, como diz nos jornais de segunda-feira (16) o outro ícone da moralidade, o senador Pedro Simon.

O que Jarbas Vasconcelos disse à Veja não constitui novidade [ver aqui, para assinantes]. A novidade é um senador dizer que a maioria dos integrantes do seu partido só pensa em ganhar dinheiro com a corrupção – e não ser expulso do partido. Pois, segundo os jornais de segunda-feira, o PMDB deve imaginar uma punição a Jarbas Vasconcelos mas não deverá lhe dar de presente a expulsão, que o colocaria no palanque para a eleição presidencial de 2010.

Até mesmo o senador Pedro Simon, tido como a grande reserva moral do partido, minimizou as declarações de Vasconcelos, dizendo que a corrupção está presente em outras agremiações, citando PT, PSDB, DEM, PPS e PTB. Eco dos rojões .Então, qual é a jogada?

O lance de Veja é apresentar Jarbas Vasconcelos como a última flor no lodaçal do PMDB, capaz de grudar o maior partido do Brasil a um projeto político diferente do atual governo.

Na resposta à última pergunta da entrevista, como se estivesse cumprindo o roteiro de sua assessoria de imprensa, o senador pernambucano afirma que não tem mais gosto de seguir disputando cargos na política, exceto se viesse a ser engajado na candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à presidência da República.

Acontece que, isolado, ele pouco acrescentaria à candidatura da oposição. Aquilo que poderia ser uma bomba a rachar o PMDB acaba tendo um efeito nulo. Os líderes do partido, entre eles o presidente do Senado José Sarney, citado pessoalmente na Veja, se fingiram de mortos. E o próprio Jarbas Vasconcelos, procurado por jornalistas para especificar os casos de corrupção a que se referiu na entrevista, disse que não acrescentaria mais nada.

Para os leitores que se entusiasmaram com as declarações fortes do senador, fica apenas o eco dos rojões. Sem acusações concretas, fica a sensação de mais um factóide. Pirotecnia política.