quinta-feira, janeiro 29, 2009

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

Chefes de Estado discutem crise com movimentos sociais no FSM

Fonte: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)

Os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, e do Equador, Rafael Correa, foram as grandes atrações, em Belém, durante encontro com representantes dos movimentos sociais e sindicais, no Fórum Social Mundial, em Belém. Lugo e Correa cantaram músicas do cancioneiro latino-americano, arrancando aplausos da platéia. Também estavam presentes os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.

Os chefes de Estado debateram o tema Perspectivas da Integração Popular da América Latina com os movimentos sociais e sindicais. À noite, teriam um encontro também com a participação do presidente Lula. Da agenda do presidente brasileira consta, ainda, o painel América Latina e o Desafio da Crise Internacional.

Da reunião com os quatro chefes de Estado da América do Sul participaram movimentos sociais de todo o continente, que fazem parte da articulação Alba Movimientos, como Via Campesina, Jubileu Sul, ASC (Aliança Social Continental), Marcha Mundial das Mulheres, CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), Alai, Caoi, Fecoc, Compa, dentre outras.

Antes da chegada dos presidentes, os militantes fizeram discursos de protestos contra o pacto social, em defesa do emprego, salário e direitos. Afirmaram, ainda, que são os patrões que devem pagar pela crise financeira. Eles apresentam uma extensa plataforma de exigências aos patrões e aos governos, o que inclui, entre outras, estabilidade no emprego, suspensão das dívidas nos financiamentos habitacionais populares, estatização, sem indenização e sob controle dos trabalhadores, de todas as empresas que demitirem em massa. Direitores do Sindipetro-RJ também participaram do evento. A 9ª edição do Fórum Social Mundial começou oficialmente ontem (28) e vai até domingo.


Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.
Emir Sader

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

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