Carta de Apoio a Ocupação de estudantes e da UNE

À Direção da UNE

MANIFESTAÇÃO DE APOIO À OCUPAÇÃO DO IMÓVEL SITUADO À PRAIA DO FLAMENGO, 132, PELOS ESTUDANTES

O Núcleo Milton Santos do Partido dos Trabalhadores - PT declara apoio à ocupação histórica, organizada pela UNE – União Nacional dos Estudantes, do imóvel sito à Praia do Flamengo, 132, e concretizada pelos estudantes brasileiros. Este brilhante ato, além de seu imenso valor simbólico de representar uma resposta às atrocidades cometidas contra o movimento estudantil pela Ditadura Militar, tem como pilar de sustentação a cooperação entre universitários e secundaristas de todo o país, que estão acampados há mais de 2 (duas) semanas no mencionado imóvel.

No entanto, segundo o relato de um estudante, que participou da Culturata, alguns manifestantes, que o próprio identificou como pertencentes à UJS – União da Juventude Socialista, o cercaram e rasgaram seu cartaz, que fazia uma crítica à aliança firmada entre a UNE e a Rede Globo, para a realização da Bienal. Este testemunho pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico:http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=6344413&tid=2514161335526287581&start=1.

Apesar deste ato isolado não tirar o mérito da ocupação realizada, este infeliz episódio descaracteriza o perfil democrático que o movimento estudantil almeja e vem sendo veiculado na mídia, vide o site http://www.midiaindependente.org/eo/blue/2007/02/372187.shtml, o que, sem dúvidas, pode trazer antipatia de parcela da opinião pública à ocupação. Dessa forma, o Núcleo Milton Santos do Partido dos Trabalhadores - PT espera e confia que a direção da UNE torne pública na mídia, através de seu site oficial, uma nota de repúdio ao lastimável acontecimento antes narrado.

Por fim, informamos que a UNE receberá nosso apoio, seja através da presença simbólica de uma bandeira do núcleo no acampamento ou até do revezamento de alguns de nossos integrantes na ocupação, e esperamos que, em breve, como é de direito, seja construída no local a sede oficial da UNE.

Coordenador do Nucleo no I Semestre 2007:Leonardo M. Barbosa
Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2007


Sobre práticas democráticas, lutas históricas e a UNE

Ocorreu nesta última semana a Bienal de Cultura da UNE na cidade do Rio de Janeiro. Ao seu final, os estudantes que participavam dos eventos invadiram o espaço do antigo prédio da UNE, tomado e destruído pelos militares no ano de 1964. Essa é uma reivindicação histórica da entidade, que planeja recuperar e fortalecer os laços com a memória da resistência á ditadura nos anos 70/80.Acontece que muitos grupos não apoiaram o ato. Seja por causa de partidos de oposição, seja por simples desgosto independente pela atual direção da UNE. Os argumentos daqueles que defendem a ocupação variam desde "é uma reivindicação histórica dos estudantes!", passando pelo esdrúxulo comentário postado em uma comunidade de orkut de que "devemos mostrar aos militares que eles perderam e nós ganhamos!".

Um argumento, no entanto, me pareceu interessante. Principalmente se formos a fundo nele. É o argumento de que "devemos isso à geração que lutou contra a ditadura, que sofreu e morreu nas mãos dos militares em nome de um país mais justo!"Eu particularmente sou a favor de tal ato. Nunca é demais construir espaços de memória em nossa sociedade. Ainda mais aquelas que levantam bandeiras contrárias ao autoritarismo e à intolerância. Mas também me pergunto se não seria muito mais respeitoso e muito mais honroso se a UNE recuperasse verdadeiramente as causas pela qual aquela geração estudantil lutou.Intervenções, falta de respeito à autonomia dos mais diversos movimentos estudantis, práticas de repressão, entre tantos outros desmandos são comuns na atual direção da UNE, que já dura mais de 10 anos.

Creio que práticas mais democráticas e de mais respeito ao movimento estudantil de base seriam formas bem mais interessantes de se retomar princípios e lutas históricas dos estudantes. Como uma coisa não exclui a outra, daí o apoio a ocupação do espaço. Mas é importante que os estudantes respeitem as mais diversas opiniões que surgem sobre este novo fato. Esse respeito é o verdadeiro legado que recebemos das lutas de redemocratização “.

por Leonardo Barbosa